Pratico, a mando médico, o exercício de caminhar por quarenta minutos, três vezes por semana. Controlo o tempo ouvindo algum disco que tenha mais ou menos esses minutos no total. Ontem foi o Led Zeppelin III, quarenta minutos até a penúltima música.
Uso uma pista que a prefeitura criou sob o viaduto da Jacu-Pêssego que passa sobre a Radial Leste e a Pires do Rio. A pista, dizem, tem cem metros no total, e circunda umas mesinhas de concreto e uma caixa de areia para crianças; por sua vez, é circundada pelas colunas colossais do viaduto, que é muito alto.
Às três da tarde de uma terça-feira lá estão crianças e suas vigias, mulheres gordas que tomam sorvete sentadas diante de seus celulares. E um ou outro vagabundo.
Faço meu périplo uma, duas, dez, vinte vezes. Numa delas, vejo que de uma coluna escorre para a pista o líquido amarelado e fedorento de uma senhora mijada: enquanto eu ia e vinha, um vagabundo achou tempo de esvaziar ali a bexiga.
Salto o charco e vejo, logo à frente, a marca úmida de um pé de criança.
Uma criança pisou no mijo do vagabundo.